Do batidão do funk à poesia do rap

Do batidão do funk à poesia do rap
Por Ariane Borges, Jéssica Nunes, Marianna Poeta, Marina Sanches, Paulo Neves e Paulo Víctor

O funk é uma manifestação cultural social brasileira, que chegou ao País na década de 1970, no Rio de Janeiro. O estilo começou nos Estados Unidos, mas com a chegada ao Brasil, sofreu modificações.

Possui vários subgêneros, cada um com diferentes estilos. Seu público é muito diversificado. Para Carlos Palombini, professor de musicologia da UFMG e pesquisador, a função do proibidão é “denunciar a guerra global e às drogas”. A função da putaria é confrontar o estado deplorável em que se encontram, entre nós, as liberdades individuais e os direitos fundamentais, incluído o direito ao próprio corpo.”

Esse gênero musical tem ganhado mais popularidade na televisão, na rádio e, atualmente, na internet. A mídia tem se tornado um grande veículo que tem aberto caminhos para essa nova fase do funk, alcançando novos tipos de público.

Hoje, temos diversos exemplos de programas e artistas em canais abertos de televisão; o programa Esquenta!, da TV Globo, é um deles, onde talentos do funk e do rap tem voz mostrar o seu trabalho. As telenovelas e artistas também tem se mostrado íntimos do estilo musical, onde personagens de classe média alta frequentam os bailes funks em favelas, representando um novo cenário presente na sociedade atual. Mas nem todo tipo de funk tem esse espaço. O proibidão ainda é censurado em grande parte da mídia, assim como a putaria.

Claro que, por estar presente em telenovelas e show business, não significa que o funk tem sido tratado pela sociedade sem preconceito e como forma de manifestação. A linguagem pouco convencional, que diversos artistas utilizam, ainda espanta parte da sociedade.  O funk e o rap que estão presentes na mídia são os mais ‘’leves’’. Anitta, Mc Guime, Mc Leozinho e Koringa são exemplos dos novos funkeiros, que caminham lado a lado à música pop, perdendo a principal característica do estilo por uma questão comercial/midiática, o que também não causa a perda total do ritmo, pois todos esses continuam sendo funk.

Entre prós e contras, o fato é que o mercado se torna cada vez maior no Brasil, Mc Gibi, funkeiro carioca, que iniciou sua carreira cantando samba e pagode, encontrou no funk seu verdadeiro talento, “o funk é cultura, amor, paixão e trabalho. Pra mim o funk é tudo. Hoje você vê o estilo em várias emissoras de televisão, coisa que não via antigamente, você via o pagode, sertanejo, samba, axé, forró e hoje você já vê o funk”.

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Hoje, com a maior divulgação dos artistas do funk, o ritmo tem chegado a lugares mais distantes e o reconhecimento tem crescido, “Quando a gente começa, a gente sonha em ser famoso. Mês passado, por exemplo, fui ao Acre e você chega lá, em um lugar tão pacato, e pensa que não é possível a galera curtir o seu som”, conclui Mc Gibi.

Carlos Palombini analisa, ainda, a questão política do funk, “O funk, a meu ver, é a coisa mais política que temos na música brasileira. Se isso não é geralmente reconhecido, é porque a compreensão do político em música tende a ser muito estreita, como se Chico Buarque e Caetano Veloso fossem políticos hoje. Provavelmente, não exista nada mais alienante hoje do que a MPB.

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O rap é outro estilo musical usado para manifestações. Suas origens incluem tradições afro-derivadas de contar histórias, como o boasting (autoelogio), o toasting (longos poemas narrativo-elegíacos) e o playing the dozens (troca de insultos competitivo-recreativa); a tradição dos personality jocks afro-norte-americanos (DJs de rádio que desenvolveram formas próprias de locução, o chamado jivetalkin’); a tradição do toasting cantado da Jamaica; o sound system e o dubplate.

Um exemplo de proto-rap é o grupo The Last Poets, um dos pioneiros do hip hop, que surgiu em Nova Iorque, no final da década de 1960.

No Brasil,houve registros desse estilo musical nos anos 60 com Jair Rodrigues e Gerson King Combo. Muitos pesquisadores defendem que os repentistas são os primeiros rappers do País, mas, a partir dos anos 80, a cena começou a tomar corpo, com os primeiros discos gravados como o lendário Hip Hop Cultura de Rua(1988).

A história nos diz que a música sempre esteve presente em todas as áreas das relações humanas. Seja nos tambores africanos para comunicação entre tribos, seja para chamar soldados à guerra ou para entretenimento de reis, a música é o meio mais fácil de transmitir mensagens.

Para Evandro Oliveira, mais conhecido como Evandro MC, “a periferia se sobressai no rap porque quase sempre esse estilo musical passa a ser o nosso único veículo de comunicação”.

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Ele é um dos primeiros MC’s de BH e tem formação cultural muito engajada nas questões sociais do bairro Alto Vera Cruz. “Minha infância em 1970 me trouxe uma experiência única na música e, a partir dos anos 80, me interessava pelo som dos Djs, pelos bailes de quadra nas periferias etc. Tudo se tornou claro quando ouvi Thaide, Dj Hum e o grupo americano PublicEnemy, então aquelas rimas faladas em cima das batidas passaram a fazer parte do meu cotidiano”, conta Evandro.

Por meio do funk e do rap, podemos saber como é a realidade das periferias e a maneira como isso se reflete em todo o País.</P

Mas, antes de tudo, é necessário ouvir a música sem (pré)conceitos. Para Carlos Palombini, “é burrice e exploração capitalista sem freio”, a maneira com que julgam os estilos. O rap e o funk são o reflexo do que acontece sob nossos olhos e suas batidas expõem a realidade de um País que canta seus problemas.

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